60% das mortes por doenças cardiovasculares estão ligadas ao diabetes
Por ano, cerca de 300 mil pessoas morrem no país por conta de problemas cardiovasculares, sendo que 60% dos óbitos têm ligação com o diabetes. O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Oscar Pereira Dutra, destaca que a doença é uma “epidemia”, que atua de forma silenciosa. “Quando manifesta suas intenções maléficas, há muito pouco tempo para fazer algo por aquele que está acometido”, diz.
Diante dessa situação dramática, a SBC instituiu o “cardiômetro” para quantificar o número de mortes de pacientes em 2016. O diabetes é uma doença evolutiva e consome o organismo de forma gradativa e sem muitos sintomas evidentes, o que prejudica o diagnóstico precoce. “Ela vai pegando diferentes fases e partes do organismo, aí conseguimos ver a consequência dos problemas”, explica Dutra. “Mesmo muito bem controlada, nós não conseguimos deter o avançar (da doença). Nós protelamos as suas complicações, que advêm do nível elevado de glicose”, completa.
O avanço do diabetes preocupa. De acordo com o cardiômetro, a cada três minutos, uma pessoa morre por conta de problemas cardiovasculares. Esse nível elevado está totalmente associado ao diabetes. Segundo o presidente da SBC, a obesidade é o principal fator para a evolução do distúrbio. “Dentro de 20 anos, teremos a mesma taxa de obesidade que os Estados Unidos têm hoje. Consequentemente, teremos a mesma taxa de diabetes que o país norte-americano tem hoje”, alerta.
De acordo com o especialista, o tratamento para o diabetes precisa ser feito de forma individualizada. Ele explica que, entre a hiperglicemia e a hipoglicemia, a segunda é mais preocupante. “A hiperglicemia (glicose elevada no sangue) tem um valor, para nós, ao longo do tempo. Ao longo dos anos, vai acarretar problemas como AVC (acidente cardio-vascular), derrame, infarto e insuficiência renal. É um processo”, afirma. “O nosso grande problema é em relação à queda de glicemia num momento de evento agudo. Por exemplo, quando o paciente tem um infarto do miocárdio e queda de glicemia por conta de diabetes, a mortalidade aumenta substancialmente”, acrescenta.
Fragilidade
O presidente da SBC afirma que esses casos ocorrem mais entre os idosos, que são mais frágeis ao diabetes e a outras doenças. “É importante, portanto, que não haja erro na administração de drogas antidiabéticas que induzam à hipoglicemia”, diz. “O diabético precisa ser tratado de forma diferente. A arte da medicina está na individualização da patologia e da pessoa que está sentada na nossa frente. Temos um conceito de fragilidade associado à idade, que tem maior vulnerabilidade aos idosos. É preciso evitar o supertratamento”, completa.
Dutra defende que é preciso ter outras ações além do nível glicêmico. O surgimento de drogas que controlam o nível de glicose no sangue trouxe um ganho para a terapêutica. “Essas novas drogas não só atuam no metabolismo intrínseco da glicose, como interferem em outros tipos de metabolismo. Uma delas é a Empagliflozina, que tem ação não só no controle da diabete, mas também consegue botar sódio para a rua e fazer com que a pessoa reduza a pressão arterial”, diz. O presidente da SBC destaca que a gama de respostas dessas novas drogas é extremamente importante para a redução de mortalidade dos diagnosticados com diabetes tipo 2.
Segundo Dutra, o paciente, que não sentia problemas até então, quando toma o medicamento passa a sentir os “paraefeitos” do remédio e, por isso, pode não entender o sentido do tratamento. “Consequentemente, ele se questiona: Por que, exatamente, eu estou usando essa droga, se antes não sentia nada e, a partir desse momento, estou sentindo alguma coisa?”, destaca o especialista. “O diabetes vai destruindo gradativamente. E começamos a ter problemas mais graves”, enfatiza. A doença compromete as artérias do organismo, como a cerebral, a carótida, as do coração, das pernas e pode prejudicar os rins.
Alerta
60%
das mortes no país por conta de problemas cardiovasculares têm relação com o diabetes